
P - Você tinha planejado dedicar o mês de fevereiro, para uma preparação intensiva, a fim de começar uma nova temporada no torneio de Indian Wells, mas no final, você foi capaz de seguir o seu plano com tudo o que aconteceu?
RN - Foi pacífica e desconfortável ao mesmo tempo. Vamos começar com a acusação de fraude fiscal. Eu dei uma entrevista à televisão espanhola, a fim de esclarecer tudo em relação as minhas empresas domiciliadas no País Basco, estavam preocupados. Era óbvio que eu tinha que falar publicamente. [Eu], eu sou um jogador de tênis e eu já tenho problemas suficientes para lidar dentro de minha profissão sem ter que lidar com tudo isso também. Mas quando a imprensa começou a trazer para fora as histórias das tais fraudes, era tudo, mas agradável. E, acima de tudo, estava errado. Tudo foi feito dentro da lei; eu pago todos os meus impostos na Espanha. Eu fiz o que tinha que fazer, eu disse que tinha a dizer. Especialmente para as pessoas na Espanha que estão vivendo um momento difícil economicamente. Isso me machucou.
P - Alguns dias depois apareceu no topo desta polêmica a transmissão do desenho dos bonecos que mostra o seu boneco urinando no tanque de seu quatro-por-quatro antes de ir arrancar e sair, como se dopado ... Como você se colocou a par da existência desse sketch?
RN - Não estou acostumado a ler o que sai sobre mim na imprensa e eu não estou realmente ciente do que está sendo dito sobre mim. Mas sobre isto estavam falando muito sobre isso e acabei assistindo esse desenho famoso. Não me fez rir, mas todo mundo tem seu próprio humor. Cada país tem um humor diferente. O humor francês e do humor espanhol não são os mesmos. Por um lado, eu entendi o primeiro esboço, mas na Espanha, houve muitas reações em relação a tudo isso. Foi aumentando dia após dia. Felizmente enfim parou.
P - Então nem tudo o diverte?
RN - Eu sou o primeiro a ama rir, eu gosto de puxar brincadeiras/ brincando, mas eu acho que há acima de tudo um problema no final disso: há uma parte da população que não sabe tudo o que o esporte profissional é. Que não sabe como é controlado o trabalho de dopping, não sabe que isso acontece quase todos os dias. Que temos de estar localizável 365 dias por ano. Nunca há um dia livre! Quando você sabe de tudo isso, quando você está um pouco no círculo esporte, então esse esboço continua a ser desagradável, mas não é um negócio tão grande. Por outro lado, o que mais me incomoda é que as pessoas que nada sabem sobre o sistema e que não sabem que com todas essas restrições, todos os controles, é impossível enganar, ter substâncias ilegais no organismo e para deslizar através da rede. Nós somos submetidos a um sistema de exaustão. Eu acredito que este esboço pode criar uma opinião negativa, sobre mim, bem como sobre o esporte espanhol, para as pessoas que sabem menos sobre tudo isso. O tênis é um esporte muito limpo. Tem havido muito poucos casos de doping.
P - Mas não é uma maneira ingênua de ver as coisas?
RN - Eu posso ser ingênuo, mas é melhor assim então. Eu estou tão longe do mundo doping que eu tenho um total desconhecimento do mesmo. Eu não sei nada dele. Zero! Eu só sei sobre os controles de doping. Para mim, se há alguém usando drogas, ele é pego e ele paga pelo que fez. As pessoas podem me ver como ingênuo. Alguns pensam que os controles estão atrasados no uso de drogas, mas nada me permite pensar assim. Eu confio nas pessoas desde que nada de errado tenha sido provado/revelado. O tema droga existe e existirá, mas eu acho que há certa obsessão em torno desse tema na França. Claro, que se trapaça no esporte, nos negócios, na vida, em tudo. Eu não sou um trapaceiro; eu nunca tentei trapacear. Meu estilo de vida, é esporte. E para mim, o esporte é o espírito de superação de si mesmo, um esforço diário pessoal, a força de vontade de sempre procurar melhorar. E a melhor maneira de conseguir isso, é trabalho. Eu não entendo o esporte em qualquer outra forma. Alguns podem obtê-lo de forma diferente, tomando substâncias ilegais / proibidos, mas eu acho que a maioria pensa como eu e eu nunca vou acusar ninguém sem provas. O problema que vocês tem, na França, e eu não sei porquê, é que vocês duvidam de todos. Eu não posso ser acusado de ter a poção mágica, porque a poção mágica, é trabalho e esforço. Há pessoas que tomaram drogas em todos os lugares, seja na Espanha, na França, na Suíça, nos Estados Unidos, etc. Em cada lugar do mundo. Aqueles que fizeram tal coisa pode ter sido punido e é isso. Eu não aceito ser rotulado como "dopado" Considerando que, desde que eu tenho sete anos de idade eu tenho trabalhado milhares de horas de cada dia maldito! Depois de um tempo, é cansativo pra mim.
P - Uma última pergunta sobre esse tema. Você pode esclarecer sua posição em relação a Alberto Contador para quem você enviou uma mensagem pública de apoio através do Twitter?
RN - Antes de tudo, eu apoio Alberto Contador, porque ele é meu amigo. Ele é um grande cara. Ele diz que não toma drogas e eu acredito nele, porque ele é meu amigo. Quando o teste de drogas de Richard Gasquet deu positivo em 2009, eu disse imediatamente que eu não acreditava que ele estava dopado, porque conhecendo-o desde os onze ou doze anos eu simplesmente não podia aceitar. E gostaria que fosse mais claro possível para que as pessoas entendam corretamente, principalmente na França. Alberto foi punido, e Richard, também naquela época. O que algumas pessoas não conseguem acreditar é que qualquer um pode colocar uma substância ilegal em uma bebida sem você perceber a destruir uma carreira. Alberto foi punido, desejo do fundo do meu coração que volte forte, com o espírito de campeão que o caracteriza.
P - Será na Espanha, por causa de uma situação econômica muito dolorosa, o esportista de elite desempenha um papel social desproporcional? Assim como uma válvula para os problemas diários da população?
RN - Eu acho que temos que ser exemplos, que o esporte continua a representar algo sadio / saudável. É um esforço diário com a vitória ou a derrota na final, mas a busca do máximo. Para garantir que as pessoas estão muito envolvidas, eles gostam de esportes, mas eu sou o primeiro a gostar disso! Isso me faz feliz quando eu sigo o esporte como um espectador, e dá energia positiva para ver o brilho do esporte espanhol em todo o mundo.
P – Será que não dá aquela pressão-extra, ou motivação-extra, "jogar para o povo"?
RN - Nem uma coisa nem outra. Eu faço tudo o que posso, e eu sempre fiz ao longo da minha carreira inteira. Quando você dá tudo de si, não se pode exigir mais de você.
P - Desde o final da temporada passada e sua implicação com um calendário mais light, ficamos com a sensação de que você tem muito com que lidar fora da quadra. Você consegue treinar o que quiser e manter sua capacidade de ser "aqui e agora" na quadra?
RN - Quando eu me envolvo em algo, eu estou fazendo isso em cem por cento. Se estou jogando golfe, tênis, ou quando eu estou lutando por aquilo que eu acho que é justo. Quanto ao calendário é preocupante, eu acho que 90% dos jogadores concordam comigo sobre esse assunto. É sobrecarregado, existem lesões demais. Eu amo tênis, eu adoro a competição e eu não quero me aposentar com a idade de 27 ou 28, ninguém quer isso. E para ficar no topo do ranking, não tem escolha, você tem que jogar a partir de 01 de janeiro até o final de novembro. Então eu sustento o que digo vigorosamente porque é assim que eu sou na vida. Eu perdi um pouco a energia em tudo isso, com certeza, mas eu estava pensando que as pessoas que nos representam na ATP não estavam cumprindo seu dever. Se 90% dos jogadores querem uma coisa e isso não acontece, é que nossos representantes não estão a representar-nos bem... E eu tenho que admitir que isso me cansou mais que todas as histórias de fevereiro. Para essa matéria, isso não vai acontecer novamente.
P - De volta as quadras. Especialmente sobre seu melhor inimigo, Novak Djokovic. Você disse várias vezes que não estava à procura de uma solução específica para jogar contra ele. No entanto, há algum tempo, Roger Federer admitiu que ele estava procurando um plano anti-Nadal. Seria estúpido / inadequado, de acordo com você, acho que é a sua vez de levar essa busca?
RN - Eu tenho que melhorar meu tênis compreensivamente para ter mais opções contra Djokovic, mas não estou obcecado com ninguém. Eu penso em mim antes de pensar em Novak, Federer, Murray ou Ferrer. Eu me levanto pela manhã para tentar ser melhor do que no dia anterior. Para mim, em primeiro lugar. Veremos mais tarde se isso será suficiente para bater aqueles a quem eu gostaria de bater. Novak está espetacularmente em forma, mas eu estive muito perto de vencê-lo na Austrália.
P - Só uma pergunta sobre esta final fabulosa: este "fácil" backhand passing-shot que você colocou para fora em 4-2, 30-15 no quinto set, você assistiu novamente?
RN - Eu re-assisti o jogo, quando voltei para casa. Não tem problema de falar sobre esse ponto novamente. Eu perdi aquele golpe, mas em 4-3 para Novak no quarto set e 0-40 no meu game de serviço, que poderia ter terminado muito rapidamente... É o que é. Um único ponto não resumiu um jogo de seis horas...
P - Você disse que você ficou feliz com seu jogo em Melbourne, apesar da derrota ...
RN - Porque esse é o caminho: jogar bem, de forma agressiva, para encontrar soluções. E as soluções estão aqui (ele aponta para o coração), não aqui (ele aponta o dedo indicador para a parte externa). Vou ter que ser mais forte, mais constante, mais sólidamentalmente e fisicamente do que no ano passado contra Djokovic.
P - Jogando de forma mais agressiva, não é se mover muito longe de sua personalidade?
RN – Nada é fácil, todos tem sua própria maneira de jogar que te faz sentir à vontade, seguro. Todas as mudanças que eu estou tentando trazer para o meu jogo não são fáceis. Tem que ser feito, para ser julgado, ao mesmo tempo colocando coragem e entusiasmo no processo.
P - Não existe o medo de perder um ponto forte / principais, explorando outras maneiras?
RN - Todo mundo tem medo, todo mundo tem dúvidas, eu não sou arrogante o suficiente para não tê-los! Mas eu estou muito satisfeito com todos os passos que eu fiz desde o início da minha carreira. Eu me sinto muito feliz agradecido à vida e a todos aqueles que me ajudaram.
P - Entre os golpes que evoluíram muito desde os seus primórdios, há a saque. O Fantástico no Us Open 2010, onde é que ele foi parar?
RN - Acho que posso encontrá-lo de volta, mas esse não é meu objetivo principal. Ganhei muitos títulos sem aquele serviço. Eu posso fazerer um saque em 215 km hoje sempre que eu quiser, mas para sacar forte , presumivelmente, ele tem que se encaixar no resto do meu jogo. Meu percentual cairia muito e eu preciso de uma elevada percentagem para assumir o controle do rali muito cedo com meu forehand. Eu tinha trabalhado muito bem esse US Open, tive um sentimento perfeito com meu movimento durante todo torneio, mas geralmente esta não é a maneira mais eficiente de servir para mim ... Pode me dar mais pontos livres, mas não se adéqua a minha mentalidade. Eu às vezes tento servir tão forte novamente, mas ele me dá a sensação de que eu posso perder o controle do meu jogo.
P - Hoje, qual é o papel de Toni Nadal ( seu tio e treinador desde sempre) com você? Ele está sempre passando por mudanças? Você poderia imaginar, por exemplo, jogar em um torneio de Grand Slam sem ele?
RN - Toni vai estar comigo durante o Grand Slams, enquanto ele quiser. Se ele disser um dia que ele está cansado da viagem, eu posso me imaginar sem ele, mas estou feliz com ele, ele me agrega muito. Ele que me trouxe tudo na minha carreira no tênis, mas também tenho uma equipe em torno de mim que está me ajudando por um longo tempo. Todo mundo muda quando cresce, as mudanças de relacionamento, que obviamente não é a mesma de quando eu tinha doze anos ...
P - Quando você vê alguém como Lendl (treinador de Andy Murray desde o início da temporada) no boxe de jogadores, você acha que a aura de um grande nome pode ter uma influência sobre o adversário?
RN - Eu não sei. O que eu sei é que é bom que um campeão como Lendl volte ao negócio. O que importa é que ele ajude a melhorar o Murray. Mas se fosse apenas sobre contratar um grande nome, só haveria grandes nomes entre os treinadores...
P – No momento qual sua relação com a Copa Davis? Durante a final em Sevilha em dezembro passado, você tinha dito que iria pular a campanha 2012 ...
RN - Nós vamos ver, é um tema diário de reflexão. É uma grande competição, mas você tem que determinar prioridades, e eu já ganhei quatro vezes (2004, 2008, 2009, 2011). Isso me motiva muito, representar o meu país, mas eu considero que eu também o represento quando eu estou jogando em Indian Wells ou Miami. A Copa Davis é grande, mas muito difícil, ao mesmo tempo. O formato não mudou por muito tempo em um mundo em constante mudança. Seu formato não favorece a presença dos melhores jogadores em cada rodada.
P - E uma possível semi-final França x Espanha, não te inspira?
RN - Eu nem sequer me projeto na quartas de final contra a Áustria, imagina na semifinal de setembro ...
P - Será que o número 7 tem um significado especial para você?
RN - Não, não particularmente, mas eu gostaria que para obter um (risos). Ao ganhar o meu sétimo Roland-Garros ... Mas há uma série de torneios e jogos entre agora e depois. Eu não estou pensando nisso tudo, como poderia enquanto tenho que jogar amanhã contra Federer! (Após ganhar as quartas contra Nalbandian.). Felizmente, eu não tenho qualquer dificuldade em permanecer no momento. Mas eu nunca teria pensado que eu ia ganhar tantos como Borg, então... Eu vou fazer o meu melhor para ir o mais longe possível, em Roland-Garros, como sempre.
P - Você se lembra de seu jogo primeiro em Roland Garros?
RN - Muito bem, em 2005, contra Lars Burgsmuller (6-1, 7-6, 6-1), eu estava mais nervoso que o habitual, porque eu estava ouvindo um monte de gente dizer que eu poderia ser o favorito do torneio, enquanto eu era ainda um garoto. Se me perguntam qual dos meus títulos é o mais significativo entre 2005 e 2011, a resposta poderia ser 2005, porque o primeiro é sempre especial. Mas no final, não, porque com a experiência, as dificuldades, as lesões, a dura derrota, os bons e maus momentos, você percebe melhor como é difícil ganhar novamente. Quando ganhei Roland-Garros em 2010 e 2011, as emoções eram muito, muito forte, porque você nunca sabe se é a última vez ou não.
P - Mas cada vez que você volta para Roland Garros, sua confiança aumenta, não é?
RN - Toda vez que eu volto a Roland Garros, o primeiro sentimento é o nervosismo... "