As – A penúltima coisa que soubemos de Rafa Nadal é que,
fora das quadras de tênis, compete nos torneios de golf... e também se
converteu em um bom jogador de poker. Omo aconteceu essa última?
RN – No golf tenho handicap 3.9. O poker é um jogo especial
em que você tem que estar focado o tempo todo. Aproveite e lhe dá uma chance
para pensar. É ótimo quando você tem tempo livre fora das quadras.
As – Também tem um treinador pessoal no poker?
RN – Há! Há! Tenho um treinador pessoal, mas não é igual meu
tio Toni no tênis, claro. O que tento também é ter meu próprio estilo,
agressivo e com bom controle mental. E nisso o tênis e o poker se parecem, na importância
da parte mental.
AS – Qual sua situação atual no processo de recuperação da
lesão que sofre no joelho esquerdo e quais são suas eventuais possibilidades de
reaparecer antes do final de 2012?
RN – Estou trabalhando duro, embora não na quadra de tênis,
com sessões de natação e de reabilitação, no ginásio e com meu fisioterapeuta.
Faço musculação, bicicleta... quero me recuperar até o ponto em que estava
antes da lesão: eu levava uma temporada de tênis incrível. Nado 1km diariamente
no mar com traje de neoprene: ele flutua melhor. O joelho vwm respondendo bem, mas minha única
prioridade é voltar quando o joelho estiver 100%. A única realidade sobre
minhas opções de voltar antes de 2013 é que... não sei.
AS - Apesar de sabermos que não traz boas lembranças,
poderia detalhar o processo de sua lesão e como isso acabou fazendo você perder
os Jogos Olímpicos e o Aberto dos EUA? Se lesionou antes do Rosol? Como isso
acontece?
RN – Não se trata Rosol ... ou depois de Rosol, porque eu não volto a
jogar. No Masters 1.000 de Indian Wells, em março, tive uma ruptura
parcialmente de tendão no joelho
esquerdo. É uma ruptura pequena. Mas depois dessa ruptura foi quando eu tive que
me retirar nas semifinais em Miami. Começou a temporada de saibro e vamos
colocando ataduras: infiltração e tratamento. Eu não sei se eu tinha que parar
lá, mas eu suportei a dor muito bem e comecei a jogar o que acabou sendo uma das
melhores temporadas de saibro na minha vida. Até a chegada de Roland Garros ...
AS - E...
RN - Como eu disse, eu estava jogando inacreditável. Um dos
melhores Roland Garros em minha
carreira, eu não sei se a melhor. E aí começa a doer de verdade. Sigo jogando,
é claro, porque é Roland Garros e eu tenho que tratar com anti-inflamatórios
para jogar semifinais e finais, se quisesse ter a oportunidade de fazê-lo. Eu
não sei o que teria acontecido se não for tratada em Roland Garros ...
AS - está indo para a grama em Halle, onde claramente não se
movia bem, perde para Kohlschreiber ... e depois chega Wimbledon.
RN - Em Halle e estava mal, estava limitado, mas há ainda a
esperança de recuperar para Wimbledon. Então, entre Halle e Wimbledon, os
treinos se tornaram terríveis: a dor no joelho esquerdo. Talvez eu devesse ter
parado ali, porque os treinos se tornaram tão ruins que eu mal podia treinar...
Mas veio Wimbledon. Lá fui eu e joguei com infiltrações desde a primeira
rodada, caso contrário, teria sido impossível. Talvez pudesse ter parado depois
de Roland Garros. Certamente, teria feito bem em outras circunstâncias, mas o
torneio de Wimbledon foi chegando e eu sempre quero jogar lá: é Wimbledon.
AS - E aqui vamos nós: bate Bellucci e na segunda rodada
pega Rosol, no último dia até hoje, que Rafael Nadal pisou em uma quadra em
alta competição: 28 de junho de 2012, na Central Court of All England...
RN - Chega um momento em que seus joelhos dizem que você tem
que parar, e quando a dor te limita. Como eu disse, eu sempre resisti muito bem
à dor, mas chega aquele momento, esse dia do Rosol, onde você começa a pensar
sobre como você tem que colocar a sua perna quando você corre e você vai para a
bola. Depois de Indian Wells tinha sofrido com infiltrações e tudo mais. Depois
de Roland Garros, e, basicamente, eu não poderia ter continuado a jogar. Mas
para chegar a esse ponto de dor que eu descrevi, então... em seguida, é
impossível competir.
(Quando Rafael Nadal se lembra dessas sequências, seu rosto
aparenta uma mistura de decepção, dor e amargura e que é tão difícil de descrever... não gostaria de ver em qualquer outro momento).
AS - Ainda assim, Rafa, ainda faz uma tentativa quase
desesperada de alcançar os Jogos Olímpicos de Londres: iria ser o
porta-bandeira da Espanha.
RN - Perder a Olimpíada foi muito difícil e muito triste.
Foi uma decisão difícil e que foi mais complicada pelo fato de que seria o
porta-bandeira. Perda no ranking não me afeta: você pode recuperar. Se você
perder um torneio de Grand Slam, você sabe que haverá mais oportunidades
futuras. Os quatros torneios grandes acontecem todo ano. Mas a Olimpíada é uma
vez a cada quatro anos. Não sei o que vai acontecer em quatro anos. Eu não
gostaria de perder esta oportunidade. Mas eu tenho motivação suficiente para
continuar tentando: Essa lesão não tomou qualquer um. Eu ganhei em Roland Garros.
Eu não estou com medo.
AS - Esqueça os males. Como foi apreciar de fora deste mais
recente capítulo da temporada? Vamos falar sobre a Copa Davis e da equipe da
Espanha, e na final contra a República Checa, e a explosão de Andy Murray ...
RN - O que eu posso dizer sobre a Davis? Estou feliz pela a
equipe. Todos são grandes amigos e têm feito um grande esforço. Especialmente,
eu estou feliz por David Ferrer, que tem tido uma temporada fantástica. Também fico feliz que Andy Murray venceu seu
primeiro torneio do Grand Slam. Não creio que seja por Ivan Lendl. Andy já
havia jogado quatro finais nos últimos três ou quatro anos e ele merecia.
Quando você está na final já está ansioso para o melhor: você lá. Eu não sei
como esta vitória em Nova York vai mudar além dos Jogos Olímpicos. Normalmente,
quando você chegar a este ponto é mais fácil de repetir.
AS - Será que vamos ver Nadal na Davis, na República Checa,
em novembro? Lá, em 2004, em Brno, um menino de 17 anos começou a forjar um
mito: era Rafael Nadal.
RN – Foram minhas primeiras grandes emoções. Foi
inesquecível. É engraçado: os tchecos têm quase a mesma equipe, com Berdych e
Stepanek. Falta Jiri Novak, que me bateu então. Mas não irão colocar uma quadra
tão ou mais rápida do que Brno, que nem sequer foi aprovado. Na Davis você tem
que considerar o que é melhor para a equipe. Você tem que jogar o melhor para a
equipe em todos os momentos. É como se Messi não jogar todo o ano e chega à
final da Liga dos Campeões em si é bom. O que você está fazendo? Eu queria
jogar este ano e eu não podia. Eu não vejo como aqui há menos de dois meses,
pode ser o melhor para a equipe. Agora, o melhor exemplo é a lição diária.
AS – Dizia você, Rafael Nadal, que tem sido "treinado
para suportar a dor", mas quando "você começa a pensar sobre como você
tem que colocar a sua perna quando você arranca e você vai para a bola ... em
seguida, é impossível para competir ". Isso significa que após o
intervalo, você pode precisar remodelar seu tênis e mudar a forma de jogar ...?
RN - Isso seria errado. Quando e como é que eu faço? Eu não
posso mudar aos 26 anos. Meu estilo de jogo é o que é não é sacar e volear, nem
tenho um serviço como Isner para ficar em jogos baseados em aces. Posso
volear duas ou três vezes, mas eu não
posso o tempo todo ir para a rede. Ao longo dos anos tenho jogado mais
agressivo e melhorando a posição em quadra. Leio melhor o jogo. Não me sinto tentado
a fazer mudanças drásticas.
AS - mas ainda mantém uma alta demanda física, o que parece
condicionarlo em muitas coisas ...
RN - Eu corro muito menos do que antes e dizem que é porque
eu jogo melhor tênis. É a única maneira de ganhar torneios consecutivos, como
Monte Carlo, Roma e Roland Garros. E pelo que eu vi e senti nesses torneios,
agora em quadra eu não corro mais do que Djokovic. Na verdade, ganhar torneios,
como eu fiz este ano é algo que não pode ser alcançado apenas com base na raça,
não é ...?
AS - Fora do jogo em si, pode ser aumentado para minimizar
suas aparições em torneios de quadra rápidas em superfícies duras?
RN - As quadras duras são muito negativas para o meu corpo:
costas, joelhos e tornozelos. Mas ... Eu não posso fingir que parar de jogar em
quadras duras quando dois Grand Slams (Austrália e EUA) são jogados nessa
superfície. Eu sei, mas ele está errado, o esporte está se movendo nessa
direção. Este é um negócio e estas quadras são mais fáceis de construir do que
grama ou de terra. Mas há um problema com este. Tenho 100% de certeza do que eu
digo: eu vejo jogadores de futebol ou de basquete, esportes que são de
movimentos tão rápidos, jogando em quadras tão dura e negativa para o corpo. Eu
venho dizendo há muitos anos e centenas de vezes antes para a ATP. Mas isso não
vai mudar: não para mim ... ou a minha geração.
AS - Em suma, pode ser forçado a fazer novos planos no
calendário?
RN - É possível jogar mais do que antes no saibro e me
concentrar mais nesta área. Não é tão fácil a esse ponto: Eu não sei se há
muito mais opções.
AS - Além da lesão em si, é possível aceitar que o seu desempenho físico
já não será como em outros tempos?
RN - talvez não no mesmo nível físico que tinha em 2004, 05,
06, 08 e 10... Sempre se perde alguma coisa, mas isso não me assusta. Eu não
sou estúpido. Eu sempre soube que preciso p fazer progressos em outras coisas e
eu acho que eu fiz. Mantive-me oito anos entre os dois primeiros do ranking da
ATP, no topo da competição. Não faz nem
mesmo quatro meses que eu ganhei Roland Garros depois de um dos melhores
momentos da minha vida no saibro. Eu tenho motivação e confiança. Por que mudar
tudo em cinco meses? Por que não voltar a ser o mesmo?
AS – Os anos passam e as perspectivas vitais mudam.
RN - Mas você não pode olhar para tênis como um negócio.
Você tem que fazê-lo com paixão, eu não conheço nenhuma outra maneira, eu tenho
feito toda a minha vida. Eu trabalho todos os dias tão duro quanto eu puder
para recuperar o joelho. E eu tenho 20 anos com um treinador apaixonado e
exigente, o tio Toni, que faz você treinar na parte da tarde, se choveu de
manhã, ou você treina de sexta-feira a sábado, se continuar a chover ..
AS - Expandindo esse assunto, é possível pensar que aja uma escola definida por nuances especiais
que é o que tem levado os tenistas espanhóis ao mais alto como uma referência?
RN - Eu não acho que há uma escola espanhola. Sim, temos boas
condições para jogar um bom tênis, tempo muito bom e uma tradição que permite
treinar quase todos os esportes em muitas partes da Espanha. Muitas pessoas
fortemente comprometidas, bons treinadores que te exigem, como o meu tio Toni
... se não tem tudo isso, então haveria menos chance de saírem bons jogadores.
AS - Todos os bons jogadores que, mesmo sem Rafa Nadal,
deram a Espanha em sua nona final da Copa Davis, sétimo desde 2000. Te motivaria
especialmente reaparecer no final iminente da República TCheca?
RN - Eu queria jogar a partir das quartas de final, mas não
consegui porque o joelho não deixou.
Agora eu não sei quando eu poderei
voltar e, no caso da Davis, dependerá de duas coisas: o estado do joelho
e eu estar pronto para competir de uma forma que iria convencer o capitão, Alex
Corretja. A decisão não é minha. Às vezes a gente perder a perspectiva, porque
o tênis é um esporte individual ... e Davis é uma competição por equipes. É em
todos os momentos fazer o que é melhor para a equipe.
AS - Desenvolver essa reflexão.
RN - Por exemplo, o mesmo Federer passou anos inteiros sem
jogar com a Suíça e só foi na última eliminatória. Pensaram que era o melhor.
Agora, Almagro tem jogado todos os playoff com a Espanha, mas se o capitão disser
que a final deveria jogar outro, acho que
Almagro deve ser feliz de qualquer maneira, como todos os jogadores que ajudaram
a equipe a chegar à final ... ou levantar o troféu. Eu ficaria feliz em viver a
atmosfera da equipe. Agora eu não posso dizer mais.
AS - Você está surpreso com nada em particular sobre como se
desenrolaram estes meses o circuito da ATP?
RN - Eu não posso dizer que fiquei surpreendido. Federer,
que manteve o número um, Djokovic e Murray têm estado no controle das coisas,
jogaram as semifinais e finais. David Ferrer vem jogando incrivelmente, merece
mais e ainda não teve essa janela para espiar o topo. David teve má sorte com a
suspensão da semifinal do Aberto dos EUA contra Djokovic. Parou no pior momento
para ele. Murray parece ter a confiança que estava faltando antes. Para o tênis
é bom que Andy agora subiu para o nível mais alto.
AS - Já se sentiu envolvido nos últimos meses por seu
companheiro de ATP?
RN - Estou feliz por ter recebido praticamente todos os SMS.
Espero agradece-los: o mais tardar, na Austrália.
AS – E ‘seu’ Real Madrid ...
RN - Mmm ... o que Mourinho faz é muito difícil: a tarefa
mental de manter a ambição de todos, a cada ano e com toda a intensidade. Mas
onde uma equipe como o Real Madrid ganha realmente está na mente. Eu acho que
eles podem decidir jogos com o Barça.